Caderno de Resumos | Cahier des résumés

Caderno de Resumos do V Colóquio Internacional de Poesia – O Simbolismo, As Artes

  1. Prof. Dr. Adriano Messias de Oliveira (pós-doutorando – PUC/SP) – Um gato sempre nos escapa: litoral e extimidade no bestiário de Baudelaire

Resumo: O animal faz litoral, e não continente, seguindo as pegadas de Lituraterra, profundo e breve texto lacaniano que sobrevoa o poético e o esquizo. Um bicho, assim, margeia. Junto à infância, à loucura e à feminilidade, o animal compõe um quarteto historicamente segregado, coisificado, monstrificado, desumanizado (em seguida humanizado, e de novo desumanizado, e por aí vai). E isso muitas e muitas vezes. Para com Baudelaire e seus gatos – representantes maiores de um bestiário particular –, qualquer zooliteratura seria excesso de generosidade. Quase sempre seus bichos – porta-vozes do Mal que tornaram o poeta maldito tão incompreendido – atuam como vetores da extimidade, discreto conceito de Lacan que Jacques-Alain Miller soube desdobrar, e em cuja primitividade máxima reside a Coisa parcialmente desvelada por Freud. Não há saber possível sobre o animal quando este é objeto de gozo e fuga. Há também, por conseguinte, descontinuidade, ruptura e litoral entre o saber e o gozo (sobre um animal). Além de Baudelaire, o sabiam Lautréamont, Borges, Neruda, Murilo Rubião, Guimarães Rosa, e tantos outros. Darnton, Derrida e Diamond o afirmaram, cada qual à sua maneira. Lacan endossou o animal como aquele que, ainda que desprovido da linguagem, pode dela participar – sempre que em domesticação. Que exemplo melhor do deslize e do furo que perpassa a ideia de extimidade do que os gatos baudelairianos? Um bichano não é da casa, tampouco da rua. Ao cabedal dos simbolismos da natureza que inspiraram os decadentistas, antecedem evidentemente Les Fleurs du Mal e Petit Poème en Prose com uma provável lista que inclui o albatroz, a serpente, a coruja, o cisne, o cachorro, mas, sobretudo, os felinos. Este texto é uma discussão ensaística sobre o quanto o artista e o animal se conjugam em um quase-diálogo sobre a Coisa e o êxtimo.

  1. Prof. Dr. Álvaro Faleiros (USP) – As Flores do malnuma viagem tradutória entre Brasil e Portugal

Resumo: Apesar de ser um livro de grande importância para a poesia brasileira e portuguesa desde o século XIX, Les fleurs du mal só recebem sua primeira tradução (praticamente) integral em língua portuguesa em 1958, no Brasil, por Jamil Almansour Haddad, à qual se seguem as traduções de Ignacio de Souza Moitta (1971) e de Ivan Junqueira (1985). A primeira edição integral portuguesa é de 1992, feita por Fernando Pinto do Amaral, à qual se segue a tradução de Maria Gabriela Llansol (2003). O Brasil, no século XXI, acolhe novamente Les fleurs du mal com o lançamento, em 2011, de mais duas traduções integrais, por Mário Laranjeira e Helena Amaral. Apesar de já terem sido estudas no Brasil e em Portugal, são poucas as reflexões que comparam essas traduções brasileiras com as portuguesas; comparação que nos permite interessantes indagações sobre as práticas tradutórias dos dois lados do continente.

  1. Ana Cristina Steffen (mestranda – PUC/RS) – Gilka Machado e o Simbolismo

Resumo: Gilka Machado, nascida coincidentemente no ano que por muitos é considerado o inicial do Simbolismo no Brasil (1893), é figura pouco lembrada dentro da literatura do país. A autora está presente apenas em uma pequena parte das histórias da literatura e, algumas vezes, sua presença não passa de uma mera citação de seu nome. Somente nos últimos anos Machado teve sua obra revisitada, muito devido aos estudos que se propõe resgatar as escritoras apagadas da historiografia. Aquela que em 1933 foi eleita a maior poetisa do Brasil e que poderia ter sido a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ela recusou o convite feito por Jorge Amado em 1977) é considerada ora como simbolista – o que é apontado pela maior parte dos estudiosos – ora como neo parnasiana ou ainda modernista. Sendo assim, a partir dessas considerações, este trabalho irá analisar alguns poemas da autora, tendo em vista a obra de Álvaro Cardoso Gomes acerca do Simbolismo, visando explorar até que ponto seus escritos encontram-se com a estética simbolista. Com isso, pretende-se contribuir com os estudos voltados à poesia desse movimento e com o resgate da obra de Gilka Machado.

  1. Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira (UNESP/Araraquara) – A originalidade de Jules Laforgue – poeta decadente ou moderno?

Resumo: Jules Laforgue é um poeta francês cuja obra perpassa percursos diversos. O autor das obras de poesia Les complaintes, L’imitation de Notre-Dame, la Lune, Des fleurs de bonne volonté, Derniers vers, das obras em prosa Moralités Légendaires, Stéphane Vassiliev, dentre outras, deixou-nos um legado de vozes que, por meio da paródia, da ironia e de uma cultura vasta e plural, oferece-nos vias de acesso diversas à sua compreensão e interpretação. Para Grojnowski (1988), essas vias seriam a dos anos 1880 (a das escolas, sobretudo a dos simbolistas e decadentes), a da biografia, permeada pelo isolamento, pelo tédio, características tão caras e pertinentes à sua contemporaneidade; a da temática, com paisagens de outono e crepúsculos, sobretudo; as dos arquétipos, estilos e formas (que englobam a retomada de mitos, a escrita artística e o uso do verso livre); a da estética, revelada, notadamente, por meio da dissonância; a da poética do Inconsciente, (influência de E. Hartmman); a dos gêneros, com a paródia e o poema filosófico. Depreende-se, assim, que a obra de Laforgue é reveladora e particular, situando-se em “estéticas diversas”. Ressalta-se, ainda, que o autor influenciou diversos autores no século XX, dentre eles, T. S. Eliot e Ezra Pound e, de acordo com Reboul (1974), foi precursor de Toulet, Derême, Apollinaire, Tzara, Max Jacob, Fargue, Aragon, Supervielle, Claude Pichois, Denis Roche, Robert Bréchon, Henri Michaux, Henri Lemaître. No Brasil, pode-se dizer que influenciou a obra dos poetas simbolistas Pedro Kilkerry e Marcelo Gama, de Mário Faustino e as primeiras obras de Bandeira e de Drummond. Desta forma, pretende-se, aqui, demonstrar, por meio da análise de alguns poemas de Laforgue, que sua obra coteja estéticas variadas e o torna um poeta responsável por um importante papel histórico nos anos 1880.

  1. Profa. Dra. Annie Gisele Fernandes (USP) – As Metáforas inusitadas e a poesia da Modernidade

Resumo: Com a lírica moderna, muitos conceitos são reelaborados, do ponto de vista de seu significado tradicional, e sua concretização poética demanda outros elementos, quer no sentido do exercício retórico, quer na ênfase dada ao poder imagético da palavra. É o que ocorre, por exemplo, com a metáfora que, estudada no contexto do simbolismo, recebe o adjetivo de “inusitadas”. Esse caráter “inesperado” da metáfora é evidente, por exemplo, na poesia de Cesário Verde, de António Nobre, de Camilo Pessanha, como se pretende demonstrar aqui.

  1. Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (UNESP/Araraquara – CNPq) – Cruz e Sousa, o Orfeu desterrado

Resumo: Cruz e Sousa (1861-1898) não é um poeta vanguardista, formado sob os auspícios da ruidosa ruptura radical com o passado e a tradição. Ao contrário: em sua formação e em seu projeto estético (e ético) são apreensíveis questões caras à Modernidade nascente, de matriz e matiz “romântico-baudelairiano”. Por estas e outras questões (o uso novo do poema em prosa; a ruptura temático-construtiva com a poesia da época; a “adesão” a certa cosmovisão órfica), é que se deve mensurar o legado do Poeta do Desterro, de suma importância para poetas brasileiros modernistas e contemporâneos.

  1. Prof. Dr. Antonio Viselli (University of Canterbury/Nova Zelândia) – Réversibilité et intertextualité chez le « pittore-poëta » Tristan Corbière

Resumo : Dans Les Poètes maudits, Paul Verlaine souligne deux identités qui se dégagent des _Amours jaunes_ (1873) de Tristan Corbière : « le Corbière parisien, […] le Dédaigneux et le Railleur de tout et de tous » ainsi que le « Breton bretonnant de la bonne manière ! ». À cette dichotomie qui divise son unique recueil en deux parties pratiquement symétriques, nous ajouterons le Corbière italien. La langue italienne, sa culture des masques et de la commedia dell’arte ainsi que sa littérature sont soumises chez le poète à des transformations intertextuelles littéralement emprisonnées entre les poèmes bretons et les parisiens : l’exemple de « Libertà » en est l’apogée. Si le recueil de poésie qui se définit comme « un coup de raccroc » selon l’auteur, la place centrale de la section « Raccrocs » contiendrait-elle une énigme, énigme qui recèle des poèmes sur l’Italie, sur ses volcans, sur les lazzaroni et le farniente, et plus particulièrement sur une riche littérature qui nourrit l’univers parodique de Corbière ? Grâce à la redécouverte de l’album _Roscoff_ – où s’unissent peintures, croquis et vers – et à ce qui nous reste de la création artistique de Corbière lors de ses séjours à Capri (à l’hôtel Pagano par exemple où il signe le registre « pittore-poëta »), il est désormais possible de retracer la chronologie de cette inspiration, voire cette infatuation qu’il a pour la péninsule italienne et qui le hante sans doute depuis sa rencontre avec l’actrice parisienne d’origine italienne, Armida Cuchiani. Cette communication réexaminera en premier lieu la place qu’occupe Corbière au sein du canon « symboliste » (à côté d’un Laforgue, par exemple), et analysera plus précisément la coprésence intermédiale d’opéra et de littérature italiens parmi ses vers discordants et anti-lyriques grâce aux exemples de Dante et de Don Giovanni.

  1. Augusto Darde (doutorando – UFRGS) – “Débarcadères”, de Jules Supervielle: simbolismos e geopoéticas de paisagens naturais

Resumo: No poema “Correspondances”, um dos títulos mais representativos da obra “Les Fleurs du mal”, Baudelaire apresenta uma “Nature” rica em símbolos a serem decifrados, sugerindo que a natureza e o ser humano integram uma unidade cuja percepção se dá através de uma linguagem que interpola os sentidos. Esse canal de comunicação sinestésica ilustra bem o que se entende por Simbolismo em poesia. No contexto das vanguardas, ao início do século XX, Jules Supervielle, poeta uruguaio de expressão francesa, publica “Débarcadères”, obra que tematiza a viagem e o deslocamento entre a América do Sul e a Europa. O presente trabalho busca analisar as heranças de Baudelaire na linguagem do eu-lírico de Supervielle, focalizando a construção textual referente às diversas paisagens naturais presentes na obra, situadas geograficamente, distanciando-se de uma universalização da ideia de natureza. O conceito de geopoética é trazido para auxiliar na reflexão sobre a transposição da experiência de mundo em literatura.

  1. Profa. Dra. Beatriz Moreira Anselmo (UEM) – Drama e poesia: as peculiaridades do teatro simbolista

Resumo: Em grande parte dos estudos literários sobre a literatura do final do século XIX, o Simbolismo, há uma forte tendência a confirmar a supremacia da poesia em relação a outros gêneros literários. É fato que existe na estética simbolista a forte presença de uma poesia que se caracteriza por hermetismo, musicalidade, misticismo e sugestões que convidam o leitor a tentar desvendar mistérios profundos da linguagem. Todavia, a literatura simbolista não se limita apenas à poesia, tendo em vista que outros gêneros também constituem a estética literária do final do século XIX. Ainda que não recebessem grande atenção da crítica, a prosa e o teatro são expressões de significativa qualidade literária que atendem aos pressupostos estéticos simbolistas. Tendo em mente tal presença, este trabalho se voltará para o teatro simbolista, um teatro poético que lançou chamas às cenas teatrais no final do século XIX e que muito contribui para a realização das artes dramáticas contemporâneas.

  1. Bruno Anselmi Matangrano (doutorando – USP/CNPq) – Domados pela Arte: leões, panteras e outras feras no imaginário simbolista

Resumo: Ao contrário do gato, seu pequeno primo doméstico, constantemente sublimado no imaginário simbolista, o leão, por outro lado, símbolo tradicional de força e coragem, aparece, na maioria das representações poéticas e pictóricas do período, subjugado ou inferiorizado, como se deposto de sua habitual condição real, em favorecimento da figura humana, da intelectualidade, da arte. Seja pela vitória da civilização ante a selva, seja por seu aspecto violento, talvez demasiado primitivo no pensamento do artista simbolista, é interessante notar tanto em poemas quanto em quadros que, a despeito da simbologia primeira do leão, nessas obras, sua imagem é utilizada para demonstrar a força humana em superioridade ao animal. A imagem da pantera, por outro lado, evoca ao mesmo tempo o feminino e o exótico, aparecendo, por exemplo, ao lado de uma das Salomés de Gustave Moreau. Diante desse contexto, o presente trabalho pretende demonstrar através de analise comparada e contrastiva de obras do simbolismo e de períodos anteriores, como os artistas da época ressignificaram as imagens de leões, panteras e outras feras.

  1. Prof. Dr. Caio Gagliardi (USP) – Húmus ou o “debate perpétuo” de Raul Brandão

Resumo: O objetivo desta comunicação é abordar o romance Húmus (1917), de Raul Brandão, como um texto-chave à mudança de paradigma no romance português do início do século XX. Para tanto, procura aproximá-lo de alguns romances, mas também peças e poemas, que engendram novos procedimentos de representação, habitualmente identificados como “modernos”. Em boa parte desses textos, a doença da consciência e a supressão de fronteiras bem demarcadas entre presente e passado, real e onírico, são motivos caros que colocam em xeque a perspectiva naturalista e abrem novos caminhos para o romance. Comum a parte deles é também a resultante dessa fuga introvertida diante da impotência frente ao mundo, isto é, a estaticidade. Daí, ao lado da reflexão autoconsciente e de matiz especulativa, ser a imobilidade temporal um de seus traços constitutivos. Vinculados à supressão da ação e da trama, e ao ofuscamento das personagens, encontramos em Húmus, em especial, o tema da espera permanente, que é característico, como se procurará demonstrar, às novas formas de representação do mundo.

  1. Profa. Dra. Camila Soares Lopéz (UNESP/Assis) – Mercure de France: Simbolismo, petites revues, crítica literária e sociabilidades (1890-1898)

Resumo: Nos últimos anos do século XIX francês, floresceram as petites revues, publicações que rivalizavam com os grandes periódicos, a exemplo da Revue des Deux Mondes, e que tiveram suas origens nas rodas decadentistas e simbolistas. Defensores da “arte pura”, embalados pelo sentimento de decadência do Positivismo e das ciências e avessos ao Naturalismo de Émile Zola, seus entusiastas divulgaram em tais páginas contos, poesia e crítica literária, entre outros textos. O Mercure de France foi uma petite revue simbolista. Em sua série moderne, foi dirigida por Alfred Vallette e trouxe ao público de sua época os anseios de contestação do campo literário, em um momento de tentativa de ruptura da dependência das grandes folhas e editoras do período. Nesta comunicação, apresentaremos as particularidades do Mercure, seus colaboradores e, sobretudo, sua crítica literária, além dos indícios de sociabilidades que as sustentou – relações entre colaboradores e, ainda, com outras revistas. Objetivamos, portanto, apontar a contribuição dada pelo Mercure de France à difusão do Simbolismo e do novo nas artes e na literatura.

  1. Prof. Dr. Carlos Gontijo Rosa (doutor egresso – USP) –Ensaio sobre “O [épico] Fim” de Portugal, segundo António Patrício

Resumo: De difícil demarcação histórica para leitores afastados do momento histórico da composição desta peça, O Fim, de Antônio Patrício é um labirinto de falsos caminhos a ser desvendado, seja pela forma simbolista ou pela especificidade temática. Ela se passa em 1909, ano em que foi publicada. Sendo assim, foi escrita e é localizada temporalmente entre o Regicídio e a proclamação da República Portuguesa, ou seja, seu tempo decorre no curto reinado de D. Manuel II, filho de D. Carlos e herdeiro do trono após o assassinato do rei e de seu herdeiro, o Príncipe Real D. Luís Felipe, em 1908. Para quem não é familiarizado com a História portuguesa, estes dois momentos se confundem e são geralmente pensados como um bloco. Além disso, António Patrício apresenta, nesta sua primeira incursão à escrita dramática, grande domínio dos recursos cênicos, cujo diálogo com a escrita é perceptível em suas rubricas – parte desprezada da composição por inúmeros dramaturgos. Assim, esta obra se mostra um prazeroso e intrigante objeto de apreciação para leitores contemporâneos.

  1. Caroline Pessoa Micaelia (mestranda – USP) – Entre a crítica de arte dos anos 1870 e a poesia-crítica dos anos 1890, uma carta de Stéphane Mallarmé para Odilon Redon

Resumo: A tradução e a publicação da primeira carta que Stéphane Mallarmé endereça a Odilon Redon (Non Plus, 2016) evidencia para o público de língua portuguesa, de maneira inaugural, algumas correlações entre as poéticas dos dois artistas, colocadas em contato através das palavras e dos gestos de Joris-Karl Huysmans. Nela, em resposta ao envio de uma série de seis litografias de Redon, intitulada Hommage à Goya (1885), Mallarmé comenta as gravuras uma a uma, demonstrando identificação pessoal com a obra do então apenas conhecido e, mais do que isso, destacando algumas relações entre poesia e artes plásticas, a partir daquele material. A reflexão de Mallarmé sobre as ligações entre a poesia e as outras artes, iniciada nos anos 1870, com a publicação de La dernière mode (1874) e de alguns pequenos artigos sobre artes plásticas (1871-1876), geralmente em revistas inglesas, entre os quais poderíamos destacar o ensaio “The Impressionists and Édouard Manet” (1876), chega em seu ápice com o lançamento das Divagações, em 1897, e com a publicação do ensaio-poema-crítico La Musique et les Lettres, de 1895. A carta para Redon, no meio do caminho, nos dá indícios desse percurso, que dialoga também, em alguma medida, com o percurso da tradutora-pesquisadora, hoje dedicada à investigação e à tradução dos dois ensaios mencionados. O trabalho a ser apresentado consiste num detalhamento desse processo: 1) apresentação da carta traduzida; 2) leitura da tradução; 3) comentários sobre algumas relações entre as obras de Mallarmé e Redon; 4) outros sobre as relações entre poesia e artes plásticas e; 5) fechamento com breves considerações sobre a pesquisa em curso.

  1. Cesar Marcos Casaroto Filho (doutorando – PUC/RS) – Um novo dandismo

Resumo: Por que Vicente Guedes, o semi-heterônimo de Fernando Pessoa, um sujeito solitário, sem a aparência física de um aristocrata e que não frequenta os salões onde os dândis costumam se apresentar, é considerado pela crítica um dândi? Buscando responder a essa questão, proponho nesse trabalho expor o meu projeto de tese, Fernando Pessoa e o novo dandismo, por meio do qual almejo ampliar o conceito tradicional de dandismo –ligado aos salões do século XIX – de maneira a propor o que denomino dandismo de alma. Trata-se de um outro dândi, um dândi sem dinheiro nem porte físico de um aristocrata: um dândi de alma aristocrática. Reconhecendo a especificidade do dandismo no texto “O dândi”, de Charles Baudelaire, enquanto uma doutrina que visa o culto de si mesmo e das próprias sensações e a análise fria de si e do mundo, compreendo igualmente que o dandismo varia historicamente e adquire novas formas com o passar do tempo. Em função disso, é fato que o dandismo do século XX não é o mesmo do XIX. O dandismo do século XX não tem mais um eu-mesmo. “Eu é um outro”, já disse Arthur Rimbaud. Estou convencido de que existe uma outra modalidade de dândi, um sujeito de pensamento aristocrático que, apesar de não frequentar os salões, não deixa de ser dândi. Exemplo desse outro dândi são os heterônimos de Fernando Pessoa. O fato de 1) não frequentam os salões; 2) nas suas obras estarem sempre falando de si mesmos e das próprias sensações de uma maneira narcísica; 3) estarem indiferentes para as questões sociais; 4) mostrarem ciência da ilusão do eu e do mundo são alguns indícios de que a coterie inexistente – como Pessoa nomeia os seus heterônimos principais – são dândis de alma.

  1. Prof. Dr. Claudio Alexandre de Barros Teixeira (doutor egresso – USP) Camilo Pessanha, intérprete da cultura chinesa

Resumo: Camilo Pessanha lecionou filosofia no liceu de Macau, então colônia portuguesa, onde escreveu ensaios sobre a história, civilização e artes do Império do Meio, colecionou objetos de arte, organizou o primeiro manual que se conhece para aprender chinês: Kuok Man Fo Shu – Leituras chinesa, redigido em colaboração com José Vicente Jorge, e publicou traduções de oito elegias da época da dinastia Ming. Pretendemos estabelecer uma relação entre as pesquisas que o poeta  português realizou da cultura chinesa com os temas e procedimentos formais adotados por ele no livro Clepsidra.

  1. Daniele Santos (mestranda – UTFPR) – O Simbolismo em No Hospício, de Rocha Pombo

Resumo: No Hospício (1996) – escrito entre 1896 e 1900 –  é de Rocha Pombo. Importante autor simbolista paranaense, viveu grande parte da sua vida no Rio de Janeiro, escrevendo lá diversas de suas obras. O romance em questão trata de um jovem confinado em um hospital psiquiátrico, que fora afastado do convívio social por ter sido considerado louco. Fileto, como era chamado, pode ser visto como um flâneur, definição que é dada por Benjamin (1985), e que se refere a um indivíduo que deambula pelas ruas. Por esse motivo, o flâneur pode ser considerado um louco, já que se utiliza de outro filtro para acompanhar o desenvolvimento citadino. Ademais, o cenário desta obra – o hospício –  pode ser interpretado como simulacro para os devaneios de Fileto, haja vista seu isolamento e busca existencial naquele lugar. Lugar esse que pode ser aproximado à ideia de Torre de Marfim (CEIA, 2017), ou seja, um campo ideal, distanciado de uma sociedade específica, onde a reflexão e a verdade são almejadas. Esses dois pontos correspondem a alguns aspectos do Simbolismo, como a reclusão do indivíduo em busca de um verdadeiro eu, assim como seu possível distanciamento do que é tido como modernidade, tendo como foco a essência de sua existência. Fileto, assim sendo, é um personagem que se apropria dessas ideias.  Dito isso, nosso principal objetivo é estabelecer essas relações, pensando no personagem central, bem como no cenário que a trama se desenvolve.  A justificativa para tanto é repensar as ficções simbolistas em prosa, tendo em vista que a tradição poética desse movimento, segundo Martins (1996), é mais antiga e mais presente. O trabalho se realizará, portanto, à luz de alguns autores como Benjamin (1985), Richard Ellmann (1991), Marcel Raymond (1997) e Edmundo Wilson (2004), entre outros, assim que se fizer necessário.

  1. Profa. Dra. Deborah Walter de Moura Castro (doutora egressa – UFMG) – Silêncio dobrado

Resumo: Nas mãos do artista/poeta belga Marcel Broodthaers, o poema Um jogo de dados (Un coup de dés), de Stephen Mallarmé, se torna uma imagem. Propondo uma nova relação entre poesia e arte, Broodthaers cria uma obra ressaltando os interesses gráficos do poeta, ao mesmo tempo em que oblitera as palavras, cobrindo-as com uma tarja preta, suprimindo seu sentido mas deixando seu rastro. Essa desestabilização do poder das palavras trouxe para a obra uma ênfase ainda mais significativa ao apelo estético, mas principalmente destacou sua característica silenciosa. O objetivo deste trabalho é exatamente pensar nesse silêncio gráfico na imagem de Broodthaers, de 1969, em contraste com aquele sobre o qual foi feito: a primeira impressão do poema de Mallarmé, de 1914. Nessa obra que nasce como uma espécie de récriture, ou écfrases em reverso, esse silêncio dobrado será analisado a partir das obras Reading the Illegible, de Craig Dworkin, e Unoriginal Genius, de Marjorie Perloff, expandindo uma leitura do que aparentemente é uma narrativa vazia.

  1. Donny Correia (doutorando – USP) – Cinema de poesia: tensões simbolistas na distopia da modernidade

Resumo: Embora nunca de maneira pronunciada, mas sempre tangente, o Simbolismo está presente em imagens metafóricas desde o início do cinema, no crepúsculo do Impressionismo, e sobretudo no nascimento de uma linguagem fílmica crítica e experimental. Esta comunicação pretende estabelecer os elos entre correntes simbolistas, sobretudo na poesia do fim do século XIX, e suas reverberações no cinema experimental dadaísta de Hans Richter, em filmes como “Ghosts before breakfast”; e surrealista, como no caso de “Un chien andalou”, de Buñuel; bem como no documentário experimental sobre as metrópoles europeias em meados dos anos 1920, tais como “Berlim, sinfonia da grande cidade”, de Walter Ruttman; ou “Rien que les heures”, do brasileiro Alberto Cavalcanti, em que se evidencia a morte da “Flânerie” baudelairiana e ascensão da distopia no sujeito a que Benjamin chamou de “o homem da multidão”. O objetivo é demonstrar como o ideário simbolista, calcado nos recônditos sombrios da psique artístico-social do homem do fim do século XIX e início do século XX, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, habita e complementa a estética, ou antiestética, das vanguardas históricas de forma sutil, mas incisiva.

  1. Prof. Dr. Enéias Farias Tavares (UFSM) – Enigmas Híbridos: Édipo e a Esfinge No Simbolismo

Resumo: Há temas que perpassam o imaginário ocidental desde a antiguidade clássica até a modernidade. Entre eles está o embate entre o herói tebano e a criatura híbrida que oferta enigmas aos viajantes. Através deste mito, revisitado com surpreendente frequência no século V a.C. ateniense e no dezenove europeu tanto nas artes do texto quanto nas da imagem, pintores e poetas têm refletido sobre problemas culturais, estéticos e, não raro, existenciais. Nesta palestra, partirei do problema teórico da representação deste mito entre os trágicos e ceramistas gregos para me concentrar na multiplicação de Esfinges – e consequentemente, de Édipos – entre poetas, escritores e pintores europeus oitocentistas, em especial aqueles associados ao movimento simbolista, a fim de compreendermos de que modo o encontro do herói solucionador de enigmas denega e problematiza os temas do feminino e da sexualidade. Como suporte à tal reflexão, utilizarei as discussões propostas por Bram Dijkstra, Lowell Edmunds e Jane Connell, entre outros autores que tem se debruçado sobre o(s) enigma(s) da(s) esfinge(s).

  1. Prof. Dr. Fábio Andrade (UFPE) – O Fauno nos trópicos: um Simbolismo fora do eixo

Resumo: A recepção do Simbolismo, no Brasil, tem se modificado desde a primeira metade do século XX. Recebido pela crítica oitocentista como moda passageira, foi reinterpretado por Andrade Muricy e vários outros críticos que insistiram numa compreensão mais precisa do movimento, atenta aos seus aspectos modernos. Proponho tratar da repercussão do simbolismo em Pernambuco e a recuperação de toda uma geração de poetas, escritores e editores.

  1. Prof. Dr. Fabricio Vaz Nunes (UFPR) – Simbolismo e decadentismo na ilustração literária de Harry Clarke

Resumo: Este trabalho aborda a obra do vitralista e ilustrador irlandês Harry Clarke (1889-1931), considerado um dos principais artistas visuais do movimento simbolista na Irlanda do início do século XX. A pesquisa busca demonstrar a especificidade dos aspectos simbolistas e decadentistas que se fazem presentes na sua ilustração literária, marcada pela influência do ilustrador decadentista inglês Aubrey Beardsley e diretamente ligada ao contexto nacionalista do Irish Revival e do movimento Arts and Crafts irlandês. A ilustração literária de Clarke apresenta características singulares na sua interpretação de textos essenciais para o simbolismo como fenômeno europeu, como “A balada do velho marinheiro”, de Samuel Taylor Coleridge e os “Contos de imaginação e mistério” de Edgar Allan Poe, como também da sua versão irlandesa, como é o caso da poesia nacionalista e medievalizante da primeira fase de William Butler Yeats. Por outro lado, afastando-se do simbolismo profético de Yeats, Clarke também ilustrou textos que problematizavam a dimensão nacionalista do Irish Revival, como a polêmica peça “The playboy of the western world”, do dramaturgo irlandês John Millington Synge. A análise das relações estabelecidas entre as ilustrações, os textos literários e o seu contexto cultural caracterizam a obra de Harry Clarke como manifestação de um decadentismo tardio dentro do qual eclodem aspectos marcadamente modernos, presentes nas imagens deformantes e insólitas criadas por ele para a edição de 1925 do “Fausto” de Goethe.

  1. Profa. Dra. Flavia Maria Ferraz Sampaio Corradin (USP) – Pedro, o Cru: a saudade na eternidade

Resumo: Esta  comunicação pretende tratar da peça Pedro , o cru (1918), de Antônio Patrício (*Porto, 7/03/ 1878/ +Macau, 4/06/1930)  sob a óptica da intertextualidade, além de examinar como ela respondeu às influências do período, notadamente à filosofia do inconsciente de Hartmann, ou às aspirações e paixões shopenhauerianas, sem esquecer do confluir de conceitos que derivam das propostas formuladas por Bergson,  D’Annunzio, Maeterlinck, Nietzsche, dentre outros, ou às correntes literárias em voga nesta quadra da história, como o decadentismo, o simbolismo, e o saudosismo. Toda esta ambientação acaba por refletir, ao fim e ao cabo, a decadência do espírito nacional português ao revelar a saudade de um tempo de ouro perdido, uma vez que Pedro, o cru se constituiria no microcosmo daquele tempo de ouro perdido, em que vive o português, projetando para o futuro a retomada de um tempo, neste caso flagrado na vivência do amor eterno de Pedro e Inês de Castro, resumido na inscrição tumular do Até o fim do Mundo.

  1. Prof. Dr. Fernando Crespim Zorrer (pós-doutorando – UFES) – Simbolismo e Vanguarda: a importância da poesia de Mallarmé nos Manifestos dos concretistas brasileiros

Resumo: O escritor francês Stéphane Mallarmé produziu inúmeras obras poéticas as quais são associadas ao movimento Simbolista. A ousadia gráfica de alguns de seus poemas foi uma de suas marcas que possibilitou, às gerações futuras de poetas, transgredir a forma pela qual a poesia era expressada. No Brasil, houve, do mesmo modo, poetas que defendiam a poesia simbolista, como Cruz e Souza, por exemplo, mas pouco seguiram as inovações gráficas. Algumas décadas após, um grupo de poetas fazia inovações gráficas nas poesias e apontavam que a escrita do poema deveria romper com os moldes até então apresentados tanto no seu conteúdo quanto na sua forma. Neste momento, surgiam poetas como Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari entre outros que apresentavam poemas que se contrapunham ao que até então era proposto pela tradição poética. Neste caso, são os responsáveis pelo surgimento da poesia concreta brasileira. Na leitura dos seus Manifestos, se sobressai o nome de Mallarmé, em muitas ocorrências, o qual é mencionado como o autor que iniciou o processo de inovação poética que posteriormente seria seguido por Apollinaire, Ezra Pound entre outros. A proposta, aqui, é examinar a importância da poesia de Mallarmé nos Manifestos dos concretistas, avaliando o seu papel para a vanguarda poética brasileira.

  1. Profa. Dr. Fernando de Moraes Gebra (UFFS) – O “Narciso”, de Luís de Montalvor, e a paisagem em delírio

Resumo: A presente conferência desconstrói uma imagem cristalizada na historiografia literária luso-brasileira de que Orpheu é o órgão do Modernismo português. A leitura atenta de todos os poemas e fragmentos de prosa estampados nessa revista literária permite concluir que, tal como afirma Fernando Pessoa em carta a Camilo Pessanha, a Orpheu apresenta “poemas e prosas que vão do ultra-simbolismo até ao futurismo”. Toda a apresentação centra-se no poeta simbolista e diretor do primeiro número de Orpheu, Luís de Montalvor (1891-1947). Abordarei, rapidamente, as metáforas de leitura feitas sobre a obra de Montalvor (Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Gaspar Simões, Alfredo Guisado, Maria Aliete Galhoz, Arnaldo Saraiva e Fernando Martinho), para, em seguida, concentrar-me no estudo analítico do poema “Narciso” (publicado no segundo número de Orpheu), destacando as metamorfoses do mito clássico de Narciso, a paisagem em delírio, os espectros do duplo, a linguagem multifacetada e os efeitos de sentido gerados pelas escolhas lexicais. Durante o processo analítico do poema, discutirei os procedimentos estéticos do autor, imbricados na tradição do Decadentismo-Simbolismo, relacionando-os com os textos doutrinários (“Introdução” de Orpheu 1 e “Tentativa de um ensaio sobre a Decadência”, de Centauro) e com o ensaio “O Cancioneiro Sentimental – uma definição do lirismo”, em que Montalvor desenvolve um estudo crítico com muitas metáforas de leitura sobre a obra de João de Castro Osório, e acaba por enunciar elementos do seu próprio fazer poético. Dessa forma, considerarei o Montalvor poeta e o Montalvor crítico literário.

  1. Fernando Ulisses Mendonça Serafim (doutorando – UNICAMP) – Simbolismo e crise: um colapso da poesia nas “Divagações” de Mallarmé

Resumo: O ensaio “Crise de verso”, escrito em fins do século XIX por Stéphane Mallarmé e editado no Brasil como parte de suas Divagações, chama atenção para uma “esquisita crise, fundamental” da literatura. Para ele, a morte de Victor Hugo, “que era o verso pessoalmente” prefigura um novo momento das Letras em que o verso procura uma dicção própria, original e revolucionária, embora ainda pertencente a uma “orquestração que permanece verbal”. Concomitantemente, um outro fenômeno, analisado no ensaio “A ação restrita”, é também foco da análise do autor francês. É estabelecida uma disjunção entre o romance e a poesia, provocada não por alguma circunstância fortuita da própria literatura, mas principalmente pela relação com os meios que a tangem ou atravessam: a sociedade, o jornalismo e o capital. O romance, “produto aceito corrente”, é o gênero triunfante em meio ao mundo capitalista; a poesia, à qual “ninguém fez alusão” em meio à “calamidade” do mundo moderno, seria a primeira vítima de sua suposta recusa em tornar-se mercadoria. De certa maneira, tal cenário já vinha sendo desenhado por Baudelaire em vários momentos de sua obra, sobretudo nos Pequenos poemas em prosa e em textos críticos como “O pintor da vida moderna”. Em nosso trabalho, pretendemos esboçar as decorrências desse colapso (a que se deu o nome de “crise de verso”) na poética moderna e contemporânea.

  1. Profa. Dr. Francine Fernandes Weiss Ricieri (UNIFESP) – Cruz e Sousa em leitura

Resumo: Os escritos poéticos de Cruz e Sousa (1861- 1898) formalizam, com muita frequência, certa problematização da leitura enquanto elemento constitutivo da dinâmica criativa. Por um lado, o leitor (enigma oscilando entre: 1) certa imagem modelar de destinatário e 2) um paradigma de leitor crítico referido também como alusivo aos pares do poeta – outros criadores de poesia) é muito frequentemente figurado no texto poético através de recursos formais que sinalizam a encenação de uma interlocução por meio da qual a escrita do poema surge tensionada. Por outro lado, o poema se organiza pela leitura mais ou menos explicitada de poéticas que sustentariam o que esta poesia parece declarar como sua pretensão de escrita. Epígrafes, citações diretas ou indiretas, recuperação de imagens, versos ou recursos formais hauridos em textos com os quais dialoga são alguns dos expedientes por meio dos quais esta escrita é também leitura; ou, escrita que se estrutura na e da leitura de outros poetas (poemas). O objetivo desta comunicação é partir do contraponto entre um poema em prosa e um texto em versos do poeta em análise para esboçar um mapeamento destas ocorrências da leitura e do leitor enquanto elementos relevantes para a compreensão deste processo criativo.

  1. Gabriella Mikaloski Pinto da Silva (graduanda – UFRJ) – “Eu tenho a vista e a visão”: a potência da imagem poética em Rimbaud e Murilo Mendes

Resumo: Tendo em vista os ecos do Simbolismo na literatura moderna, pretendemos, a partir de uma breve análise da prosa poética de Rimbaud, estabelecer um diálogo de seus poemas em prosa com a poesia de Murilo Mendes, que, para além de ter sido um leitor do autor francês, também criou um universo poético dotado de imagens muito próprias. Diante da potência de um visível extremamente particular, a ideia aqui é buscar um olhar que se volte mais para dentro do que para fora das obras a fim de conhecer de verdade o que é lido: desta maneira, a multiplicidade de sentidos se apresentaria através do intercâmbio de elementos desse universo que é íntimo de si, como em um exercício de tradução mesmo em que se transporiam significados pertencentes ao mesmo domínio desse segredo que não se revela através de uma linguagem comum que, de tão habitual, falha ou comunica significados estáticos pré-concebidos. Assim, a ligação entre Rimbaud e Murilo Mendes se daria a partir de elementos caros a ambos, como, por exemplo, a religião, bem como um pensamento que reflete traços de certo misticismo, de Surrealismo e de imagens poéticas marcantes.

  1. Prof. Dr. Gilberto Araújo de Vasconcelos Júnior (UFRJ) – O poema em prosa no Simbolismo brasileiro

Resumo: Este trabalho pretende repertoriar diferentes configurações temáticas e formais do poema em prosa no Simbolismo brasileiro. Normalmente restrito ao nome de Cruz e Sousa, o gênero carece de estudo mais meticuloso, sobretudo em suas manifestações oitocentistas, contemplando o pioneirismo de Raul Pompeia, a fatura decadentista de Colatino Barroso e Júlio Perneta, a inflexão mística de Dario Veloso e a diversidade aferida na safra produzida após a morte de Cruz e Sousa.

  1. Profa. Dra. Glória Carneiro do Amaral (Mackenzie/USP) – O lugar de Baudelaire no Simbolismo

Resumo: Trata-se de configurar o papel de Baudelaire no Simbolismo, sua recepção no contexto da literatura ocidental e estabelecer um diálogo com Cruz e Sousa, um interlocutor brasileiro de sua obra.

  1. Grazzielle Forcato Martins (mestranda – UNESP/Assis) –A construção do Memento Mori na lírica de Alphonsus de Guimaraens

Resumo: A evocação da morte é o principal eixo temático da lírica de Alphonsus de Guimaraens, sobretudo no caso de Kiriale (1902), livro integrante de sua produção poética inicial. Observa-se em Guimaraens o entrelaçamento de características norteadoras do movimento romântico com as propostas estéticas que orientam a lírica de fin de siècle, conforme teorizado por Friedrich (1978), de modo que sua produção compreende uma composição estética de evidente plasticidade, que realoca o conteúdo do poema de primeiro para segundo plano, priorizando a construção imagética. No caso de Guimaraens, esta construção está orientada sobretudo pela mescla da cor local à iconografia religiosa, sendo esta notadamente veiculada à tradição católica, oriunda de motivos das artes plásticas do período Barroco que contemplam a figura da morte. Estes motivos encontram-se reunidos sob a máxima latina do Memento Mori, ou “lembra-te que morrerás”, tratando da relação estabelecida entre a inevitabilidade da morte e aspectos da vida mortal matizados por forte moralidade, como a condenação da vaidade, do materialismo exacerbado e da ganância, encontrados em motivos como o vanitas, a dança macabra e a morte e a donzela. A cor local, por sua vez, está relacionada à opção do poeta de alocar tais motivos em âmbito nacional, utilizando-se de catedrais e construções pertencentes à região de Minas Gerais, fator evidentemente importado do movimento romântico, mas matizado pelas tendências estéticas modernas. Buscamos evidenciar a presença deste Memento Mori na lírica de Alphonsus de Guimaraens por meio de análise estética-estrutural em comparação aos motivos destacados pertencentes às artes plásticas barrocas.

  1. Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado (UNESP/Araraquara) –  Aspectos estético-temático-formais do simbolismo de Jules Laforgue

Resumo: Nas três últimas décadas do século XIX, o conceito de arte romântica que pensa a beleza harmônica e equilibrada, ainda, dá lugar à preferência pelo estranho de um natural que se decompõe e que atrai cada vez mais os artistas. A obra de Jules Laforgue (1860-1867) encontra-se bem situada nesse espírito que ganha espaço, e que vê a arte sua contemporânea como uma tentativa de reação ao romantismo, pelo emprego de elementos como a ironia, a paródia, o mito, apresentados como procedimentos imprescindíveis para abordar o mundo da época. Laforgue busca proceder a uma desmistificação dos tópicos da poesia romântica, aderindo ao pessimismo desse final de século, cuja imaginação busca o novo de preferência no artificial, como fez Baudelaire, que ele tanto apreciava. E como ele, também, o poeta soube colocar-se à distância para julgar criticamente a realidade, exterior e interior. Aliás, Laforgue interessou-se mais pela vida interior, e em sua vida mental retomava os fatos e as circunstâncias exteriores para transforma-los artisticamente, por meio de sua visão irônica. É o que se descobre na leitura de sua obra poética, bem como da coleção de novelas das Moralités légendaires. Por tudo isso, foi sem dúvida o mais genuíno e o mais criativo dos artistas do simbolismo.

  1. Profa. Dra. Ivone Daré Rabello (USP) – Poesia de luz e trevas: a relação negativa da lírica de Cruz e Sousa com a sociedade brasileira

 

  1. Prof. Dr. Jean-Nicolas Illouz (Universidade Paris 8) – L’hymen des arts: L’Après midi d’un faune: Mallarmé, Manet, Debussy, Gaugin, Nijinsky

Resumo : Les interprétations artistiques de L’Après-midi d’un Faune donnent la mesure de ce qui se joue entre les arts, quand chaque art prête à un autre ce qu’il ne possède lui-même que par défaut, ou par surcroît, et quand les arts se lient entre eux au point où chacun est avec l’autre sans commune mesure. Une nouvelle forme de relation inter-artistique s’instaure, à l’opposé de la synthèse wagnérienne : elle est pensée ici selon l’image mallarméenne de l’« hymen » et de l’union « virginale », et selon la catégorie derridienne de la différance ; tandis que, du Parnasse au Symbolisme, de l’impressionnisme au primitivisme ou à l’art nouveau, L’Après-midi d’un faune apparaît comme une figure de l’œuvre moderne, débordant le moment qui la contient, pour inventer son temps et son historicité dans le processus d’une création continuée.

  1. Joshua Teixeira Tangi (mestrando – UNESP/IBILCE) – A paisagem de lugar-nenhum: o sonho e a paisagem no Livro do Desassossego

Resumo: A presente fala intenciona refletir acerca da percepção da paisagem, e, em última instância, do mundo, no Livro do Desassossego (2013). Faz-se necessário, porém, esclarecer que não temos por objetivo final aqui discutir fenomenologicamente a percepção do mundo pelo homem por ela própria, conforme já o fizeram Merleau-Ponty, na Fenomenologia da Percepção (1999), Michel Collot (1986; 2013) e Martin Heidegger, em Ser e Tempo (2012), mesmo que mantenhamos, neste ensejo reflexivo, afinidade vital com tais textos, valendo-nos, no trajeto, dos referidos pensadores. No fragmento 72 da edição de Richard Zenith do livro, lemos “Disse Amiel que uma paisagem é um estado da alma, mas a frase é uma felicidade frouxa de um sonhador débil” (p. 105), seguido de uma retificação do francês por Bernardo Soares; tal passagem será nosso ponto de partida, seguida pelo grande trecho “Na floresta do alheamento”. O que vamos propor é, a partir da obra e sempre em compromisso com ela, recompor o modo de perceber e habitar o mundo proposto por Bernardo Soares em seu “não-livro”. Por conta da recorrência do sonho na obra, como lemos no segundo fragmento, “(…) como hei de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra” (p. 49), a questão da percepção da paisagem será, nesta fala, interseccionada pela questão do sonhar. Ao fim do trajeto reflexivo, teremos argumentado que a alegada debilidade do sonhador Amiel traz ironia ao texto na medida em que critica o escritor francês por escolher o devaneio sobre a vida em detrimento de uma vida de devaneio, predileta do heterônimo. Assim, com a inversão, a simpatia do guardador de livros recairia, antes, sobre uma vida que se perde, pelos devaneios, da personalidade.

  1. Kedrini Domingos dos Santos (doutoranda – UNESP/Araraquara) –Aspectos decadentistas em L’Ève future, de Villiers de L’Isle-Adam

Resumo: Villiers de L’Isle-Adam (1838-1889), autor de Axël, L’Ève future e Contes cruels, é um importante escritor do século XIX e sua obra permite-nos refletir sobre a essência e a aparência das coisas. Crítico do progresso e da burguesia, Villiers, que valoriza o mistério e a imaginação, vai rejeitar o mundo exterior, imperfeito, e transformá-lo, em sua obra, segundo a vontade do sujeito, a fim de consertá-lo e melhorá-lo. O romance L’Ève future (1886), que possui características do Decadentismo francês, apresenta bem estas ideias. Diante da impossibilidade de encontrar consolo na natureza, imperfeita e inacabada, o artifício surge, nesta obra marcada pelo progresso científico, como forma de transfigurar a realidade decepcionante. Assim, com a construção de um androide, cujo objetivo é substituir a mulher real, o ser artificial surge como ideal de beleza e um intermediário entre o mundo real e o au-délà, possibilitando a manifestação do mistério e do desconhecido. O objetivo deste trabalho é justamente refletir sobre esses aspectos decadentistas presentes no romance L’Ève future.

  1. Profa. Dra. Larissa Drigo Agostinho (pós-doutoranda – USP) – Mallarmé: a linguagem se refletindo. Notas sobre a linguagem, a ficção e o tempo

Resumo: Procuramos nesse trabalho apresentar um manuscrito mallarmeano que data de 1866. Ele foi nomeado Notas sobre a Linguagem e conservado, entre outras razões, porque foi escrito no verso do manuscrito de Igitur. Trata-se de um projeto de tese de doutorado que Mallarmé pretendia apresentar à Sorbonne. Sua relevância se deve, em primeiro lugar, ao período em que foi escrito, momento da crise de Tournon, que segundo grande parte da fortuna crítica do poeta, é o momento em que Mallarmé traça as linhas gerais do que seria a sua poesia futura. Além disso, temos aqui o esboço de uma teoria da linguagem poética original, pois baseada em conceitos como Ser, Tempo, acaso, fala e escrita. O objetivo desse trabalho é expor a teoria mallarmeana da linguagem e a noção de ficção que ela implica, construindo uma narrativa explicativa que permita compreender a relação entre as diferentes formas poéticas que o poeta praticou e criou.

  1. Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier (doutoranda – UNESP/Araraquara) – Os aspectos simbolista-decadentistas na poesia dramática de Villiers de l’Isle-Adam

Resumo: No final do século XXI, as normas que regiam a criação artística caem por terra e o artista vivencia a crise da representação uma vez que a arte não almeja mais a imitar a natureza, mas sim, arrancar o homem da sua condição terrena para alçá-lo rumo ao Absoluto. Porém, a sociedade, apegada aos valores burgueses e materialistas, não partilha de seu anseio e ele se exila na sua criação, sua torre de Marfim. A palavra poética é assim reivindicada como um caminho que conduz a esse Absoluto. No drama, esta palavra funda um novo tipo de teatro que não tem mais o intuito de comunicar, mas de sugerir. As fronteiras entre as artes se fundem e o teatro intenta tornar-se um templo de meditação. Eis que surge a poesia dramática do escritor francês Villiers de l’Isle-Adam fazendo ecoar alguns aspectos que foram esteticamente trabalhados pelo movimento simbolista-decadentista, assim, o objetivo desse trabalho será analisar como estes aspectos foram difundidos pela dramaturgia villieriana tornando-o um dos grandes inspiradores deste movimento.

  1. Luíza Araújo Braz (mestranda – UNESP/IBILCE) – “Le flacon” (“O frasco”): A interpretação de Charles Baudelaire por Odilon Redon

Resumo: Em 1889, o pintor francês Odilon Redon, que preferia ser reconhecido como um “intérprete” ou “tradutor” das obras literárias a partir das quais realizava suas gravuras, propõe a seu editor um conjunto de nove ilustrações para a obra Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal), de Charles Baudelaire. As gravuras apresentadas pelo pintor correspondem a oito poemas e a uma sugestão de capa ou frontispício para o livro. Para o presente estudo, propomo-nos analisar o poema “Le flacon” (“O frasco”) e a interpretação de Odilon Redon a ele relacionada e descrever diálogos existentes entre as estéticas de Charles Baudelaire e Odilon Redon. Para tal, apoiamo-nos principalmente no conceito de intertextualidade revisitado pela autora Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto literário/iconográfico apresentado por Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987). Direcionamos este estudo para uma análise comparativa entre ambos os artistas, além de traçar paralelos entre âmbitos literário e pictural; visamos, ainda, reconhecer elementos característicos do movimento simbolista nos textos verbal e visual.

  1. Profa. Dra. Márcia Eliza Pires (UNESP/Araraquara) – Charles Baudelaire e Cecília Meireles – ressonâncias poéticas sob a égide noturna

Resumo: A noite é um aspecto espaçotemporal de importância inestimável à expressão literária simbolista. Em sua esfera, encontram-se elementos sobre os quais incidem o insondável, o incognoscível, bem como o esmaecimento de contornos que, em ambiente diurno, supõem evidências aparentemente inabaláveis. A inusitada relação entre os elementos noturnos contribui com a ressignificação de valores desgastados pelo seu habitual uso no cenário da cotidianidade. As figuras inseridas nesse contexto põem por terra a compreensão vulgar de suas naturezas, compreensão essa em sua maior parte insuficiente, uma vez que se sustenta na superficialidade de apreensões limitadas a informações imediatas.  De acordo com a perspectiva simbolista, devido ao intenso teor misterioso e sugestivo, a noite é propícia para que seres e objetos se deixem representar por relações sinestésicas, disposições excêntricas ora consonantes ora contraditórias, mas, constantemente complementares.  Somente o olhar decifrador do poeta – esta figura de exceção – é apto a interpretá-los em atitude profundamente contemplativa. Charles Baudelaire (1821-1869) foi considerado como precursor da corrente simbolista, tanto os traços prementes à sua obra anteciparam a apreensão dos dados externos por meio da subjetividade filtrada pela faculdade imaginativa – fator, aliás, extremamente potencializado no Simbolismo. A poética baudelairiana também privilegia o fascínio do lúgubre, da morbidez, de figuras noturnas expostas a uma espécie de claridade baça – o que permite à imaginação concluir a continuidade de toda dedução. Semelhante aura noturna é aspecto recorrente na produção poética de Cecília Meireles (1901-1964). Em muitos de seus textos, noções ambíguas são vagamente perceptíveis, posto que são referidas de maneira a permanecer turvas e tamisadas. O objetivo de nosso trabalho consiste em aproximar a poesia de Charles Baudelaire e de Cecília Meireles por meio da observação de como a noite, noção espaçotemporal tão cara aos simbolistas, se configura em ambas as produções. Desse modo, procuraremos refletir sobre o diálogo entre os aspectos noturnos que perfazem suas poéticas cujas toantes – guardadas as peculiaridades de cada autor – se mostram convergentes.

  1. Márcia Nayane Moreira Matos (mestranda – UFRJ) – Paisagens musicais no tempo da melancolia: Stefan George e Camilo Pessanha

Resumo: Conhecidos por serem os principais nomes da poesia simbolista em seus respectivos países, Camilo Pessanha, em Portugal e Stefan George, na Alemanha, influenciaram uma vasta gama de poetas que viriam posteriormente, como Fernando Pessoa e Rainer Maria Rilke. A composição de uma poesia sutilmente musical e a criação simbólica de paisagens difusas culminam em uma nostalgia triste, em ambos os poetas. A contemporaneidade de Pessanha e George pode ter contribuído para a proximidade da temática de suas obras e estilos. Uma leitura comparada pode nos revelar um igual e estranho mistério, no qual estão envoltas as obras. Desta forma, o que pretendemos neste trabalho é salientar alguns de seus temas em comum como: tempo, paisagem e musicalidade, a partir de poemas selecionados em Clepsidra, de Pessanha e O tapete da vida, de Stefan George, levando em conta o idealismo simbolista e procurando, ainda, estabelecer uma ligação entre os aspectos pessoais e os transcendentais da estética, apresentados em estudos como o de Charles Chadwick e Otto Maria Carpeaux, entre outros.

  1. Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP/IBILCE) – Odilon Redon: o Pincel e a Pluma

Resumo: Honoré Daumier, Henry de Groux, James Ensor, Max Klinger, Edvard Munch, Alfred Kubin e Felicien Rops,…entre tantos: eis alguns artistas plásticos que transmitiram sua admiração pelo texto literário ao enveredarem por releituras utilizando o suporte da pintura ou da ilustração. Odilon Redon, personalidade do Simbolismo francês, faz parte desse distinto grupo, amante da literatura, seja por contato direto (com Huysmans, Mallarmé) seja por suas leituras (os escritos de Montaigne e Pascal eram seus livros de cabeceira), seja pela intertextualidade flagrante em seus próprios escritos (Mérimée, Poe) ou ainda pelos paratextos produzidos ao longo de sua vida (ilustrações para obras de Baudelaire, de Flaubert, além de Huysmans e de Mallarmé). A muitos surpreendeu a descoberta e edição dos escritos de Redon, inicialmente pela pesquisadora Claire Moran da University College de Dublin, em 2005, reunidos e publicados posteriormente em obra denominada NOUVELLE ET CONTES FANTASTIQUES (2011), organizada pelo Grand Palais de Paris, como uma forma de homenagear e atualizar o nome do pintor, na ocasião de mostra na capital francesa. Os dez textos em questão, por vezes inacabados e de caráter eclético (conto, conto curto, trecho de reflexão…), dialogam com suas leituras e pinturas. Pretendemos nesta ocasião revisitar e revitalizar a figura de Odilon Redon, eminente simbolista respeitado por seus contemporâneos, ao traçar um panorama de sua obra gráfica, de suas fases, temas e paratextos iconográficos; e vincular igualmente seus escritos a seu projeto estético pictural.

  1. Profa. Dra. Maria de Jesus Cabral (Universidade de Lisoba/Portugal) – Chant jailli de source innée… O drama simbolista e a ascese do dizer: Mallarmé, Maeterlinck, Castro, Patrício, Pessoa

Resumo: Peindre non la chose mais l’effet qu’elle produit”: assim enunciou Mallarmé, inspirado na “Filosofia da Composição” de Edgar Allan Poe, a nova poética teatral com que entendia libertar a sua Hérodiade das frias noites do Inverno de 1864. Projectando toda a “acção” para o domínio interior do sonho e do mistério, esta “tragédia íntima” – como definirá mais tarde o poema crítico “Hamlet” (1886) – transformar-se-á em poema, sem representação cénica, contrariando a herança aristotélica que norteava o teatro francês da época. Nesse sentido, prenuncia o ‘nunca mais’ de uma literatura dependente do princípio mimético e da ‘ilusão referencial”. A conferência propõe seguir as veredas desbravadas desde Mallarmé a Pessoa, passando por Maeterlinck, Eugénio de Castro e António Patrício no que respeita à noção de teatro poético, abarcando os poemas dramáticos e as poéticas destes autores. A analogia entre música e linguagem é o fio-de-prumo dessa reatar da poesia com as tradições do dizer em que a própria leitura envolvendo corpo, ritmo e voz demanda uma dimensão teatral. Perceber esse fenómeno remete-nos para uma concepção de leitura que supera a letra e busca a relação: do poema consigo mesmo; entre o texto e o leitor, e entre o leitor e o mundo. Nesta senda, aproximamo-nos do sentido ética da literatura e da sua crítica a qual transverte o objecto em sujeito, em eterno « passeur de langage », expressão que retomamos a Serge Martin (2017).

  1. Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes (UNESP/Araraquara) – Reflexos das iluminações poéticas de Rimbaud na lírica de Luís Miguel Nava

Resumo: No livro Ensaios Reunidos, organizado pelo próprio autor, Luís Miguel Nava reflete acerca da linguagem poética, da modernidade e do processo de criação, focalizando poetas de sua predileção. É significativo que este livro se inicie com um texto dedicado a Arthur Rimbaud, especialmente se concordarmos com o prefaciador, Carlos Mendes de Sousa, em relação a certa intencionalidade que preside à obra, conferindo-lhe uma natureza especular. À medida que vai propondo uma forma de ler as obras dos autores selecionados, parece que Nava esboça também uma linhagem para si próprio, como poeta, e traça uma espécie de roteiro para compreensão de sua arte poética. Fazendo eco a T. S. Eliot e Jorge Luís Borges, o poeta português vai criando seus precursores e contemporâneos, como se quisesse apontar seu lugar na tradição e no contexto da modernidade. Fundamentando-se em algumas análises de Tzvetan Todorov e Hugo Friedrich acerca da linguagem de Rimbaud, este trabalho pretende mostrar que muitos procedimentos poéticos recorrentes na lírica de Nava permitem filiar sua modernidade à tradição simbolista, principalmente em sua versão rimbaudiana. Tal como o poeta francês, Nava desconcerta o leitor, apresentando-lhe uma realidade essencialmente poética, que desafia a lógica e a ordem do mundo, por meio de uma linguagem extremamente complexa, sensorial, sinestésica, visual, que se caracteriza pela descontinuidade e pelo simultaneísmo, obtidos principalmente pela abolição de fronteiras entre tempos, espaços e seres diferentes.

  1. Mariana Albuquerque Gomes (doutoranda – PUC/RJ) – Modernidade constelar: experiências estéticas simbolistas e modernistas na América Latina no fim do século XIX

Resumo: Esse trabalho tem como exercício propor uma reflexão acerca da modernidade em suas sinuosidades na América Latina, através das experiências estéticas simbolistas no Brasil e modernistas na Argentina. Ao observar o cenário em que se configuram as modernidades latino-americanas – realçando tensões, continuidades e descontinuidades – buscaremos compreendê-las não como seccionadas da modernidade europeia, nem como atrasadas em comparação a “imagens otimizadas” (CANCLINI, 2007) dessa, mas sim como partes integrantes de um todo.  Nesse sentido, olhamos para as estéticas finisseculares simbolistas brasileiras e modernistas argentinas, a partir de algumas produções literárias, a fim de contemplá-las em uma trama-síntese, que denominamos modernidade constelar, na qual podemos observar uma conservação da ideia estética e suas implicações culturais e políticas em cenários que, apesar de trazerem especificidades, compartilham experiências. Para tal, recorreremos à imagem da constelação, iluminada por Walter Benjamin (2011), na qual as relações são motivadas não pela proximidade, mas pela possibilidade de significações que seus singulares-extremos lhe conferem. Propomos, assim, pensar a modernidade em uma amplitude conceitual em que a ideia – a tematização da própria experiência moderna, isto é, como as experiências da vida moderna eram representadas na literatura finissecular – transpasse as singularidades de sua experiência estética europeia, mais especificamente, a parisiense, e abranja suas experiências latino-americanas, compreendendo os microcosmos de cada cena histórica.

  1. Marina Mastrangelo Franconeti (mestranda – USP) – Baudelaire crítico de arte e seu olhar da modernidade

Resumo: O trabalho de crítica de arte de Charles Baudelaire possui a singularidade de sua pena poética. O autor procura identificar o exercício da imaginação, faculdade exaltada a qual daria à pintura a vivacidade necessária à criação. Junto a sua perspectiva de crítico, reside o olhar de um residente da Paris que sofre com as alterações urbanas de Haussmann. A modernidade de Baudelaire se constitui por meio de sua visão acerca da multidão, do spleen, do flâneur que resiste à perda da aura, de Constantin Guys como o exemplo do “pintor da vida moderna” o qual consegue capturar o movimento incessante desse item constituinte da cidade. A Paris que Baudelaire identifica é feita, assim, por pequenos quadros recortados na efemeridade da pulsação urbana. Ele encontra os resquícios da Paris antiga e o contraste com a versão moderna. E, habitante dessa cidade, ele visualiza os personagens entre a massa, do trapeiro ao poeta. Em consonância ao Baudelaire poeta, a crítica se constitui por comentários perspicazes do autor acerca dos pintores de seu tempo, no Salon de Paris. É sobre esta dita modernidade em que Baudelaire apresenta suas oposições, e em seu interior. Este exercício do poeta apresenta, portanto, a reflexão sobre seu próprio tempo, observando em Delacroix, Ingres e outros artistas, as marcas do passado e a inserção destes no período sempre incerto do presente.

  1. Mayra Moreyra Carvalho (doutoranda – USP) – Arte e política na tradução de Journaux intimesde Baudelaire por Rafael Alberti

Resumo: Em 1943, o poeta espanhol Rafael Alberti (1902-1999) traduz os então denominados Diários íntimos de Charles Baudelaire. Naquele momento, em decorrência da derrota republicana ao final da Guerra Civil Espanhola, o poeta estava exilado na região do Rio da Prata, transitando entre Argentina e Uruguai. É possível que esta seja a primeira tradução para a língua espanhola desta obra baudelairiana. A este dado que já desperta interesse, soma-se o prólogo que Rafael Alberti escreve e a relação entre poetas e poéticas que este gesto tradutório sugere. Nesse sentido, nossa proposta se dedica a refletir sobre o aparecimento desta obra em espanhol pelas mãos de um poeta desterrado, cujas posições políticas eram claras e incisivas e que já era reconhecido como uma figura destacada na poesia espanhola àquela altura. Embora a razão última desta escolha de Alberti permaneça insondável, a leitura do prólogo, cotejada às produções do poeta naqueles anos e à sua atuação no cenário cultural rio-platense, permite-nos indagar por que as sabidas contundência e ferocidade dos Diários baudelairianos precisam ser vertidas ao espanhol no “primeiro tempo” do longo exílio republicano, marcado então pela esperança e pelo esforço de reconstrução das noções que sustentam a vida “ante o sem-sentido do aniquilamento” (FORNERÓN, 2015). Quanto a Alberti, está compondo naquele momento o primeiro livro de poemas escritos na Argentina e prestes a começar seu período mais profícuo, o verdadeiro canteiro de obras que será a escritura praticamente simultânea de sete livros de poesia. Assim, a incorporação do inacabado como parte de uma poética (MATTOS, 2015) e a justa mescla de melancolia e doçura, intensidade e inconformismo, sinceridade e valentia (ALBERTI, 1943) dessas notas de Baudelaire parecem (res)surgir como forma e tom possíveis para uma literatura que, afrontada pelo dilaceramento do exílio, tem que se fazer de ausências.

  1. Profa. Dra. Mônica Genelhu Fagundes (UFRJ) – A Cabeleira de Ofélia: performance, pintura e poesia

Resumo: O nome Ofélia evoca um complexo imagético que se expande para muito além do texto dramático de Shakespeare. Recriada em performances teatrais e cinematográficas, na obra plástica de artistas que a representam incansavelmente e na literatura que obsessivamente a reinventa, a personagem se desgarra de um enredo que lhe reserva, talvez, um papel secundário, para assumir estatuto autônomo e incorporar uma gama de sentidos, por vezes antitéticos, que vão refletir muito do contexto que a recebe e reinterpreta, projetando nela valores e ideais. Neste trabalho, inserido no projeto “Metamorfoses de Ofélia: travessias portuguesas”, atentamos para o poema “Meridional  –  Cabelos”, de Cesário Verde, cuja imagem dominante – a cabeleira da amada – se revela rastro de uma Ofélia que transita entre tempos, mídias e culturas, e concentra aspectos fundamentais da personagem e de seu destino: a fluidez, a metamorfose, o erotismo e a morte. Em franco diálogo com Baudelaire, por sua vez devedor da obra plástica de Delacroix e da interpretação de Harriet Smithson (a mais famosa Ophelia dos palcos parisienses), Cesário Verde introduz por meio da sinédoque poética um perfil feminino flagrantemente finissecular – a belle dame sans merci – e instaura um espaço de experiência delirante e sinestésica, bem ao gosto simbolista.

  1. Profa. Dra. Monica Simas (USP) – De formosuras, resignações e carrancas: uma poesia escrita em folhas de lótus

Resumo: A obra Lin Tchi Fá – Flor de Lótus, de Maria Anna Acciaioli Tamagnini, revela um entendimento especial às interações entre o simbolismo, o exótico e o orientalismo, presentes na cultura portuguesa das primeiras décadas do século XX. Publicada pela primeira vez em 1925, a obra ganhou reedições, entre elas, a de 1991 que conta com um breve texto introdutório de Natália Correia, no qual aponta “o lugar lírico incontestável” dessa poesia. Esta comunicação vai procurar mostrar e analisar alguns poemas do livro, levando em conta as condições de sua produção, recepção e crítica.

  1. Profa. Dra. Naira de Almeida Nascimento (UTFPR) – A estética da podridão e da morte em poemas de António Nobre

Resumo: Publicado em 1892, O Só, do poeta António Nobre, inscreve-se no movimento simbolista português, marcado pelos mesmos temas que seus companheiros de escola, como a melancolia, a expressão do exílio, do deslocamento e da morte. Já insinuada em parte da produção romântica, desde Lord Byron, a estética da podridão ganha um apelo maior com a adesão social à era do cientificismo e da entronização do discurso médico. O ideal de sublime, evocado por V. Hugo, misto de beleza e do grotesco, vai cedendo espaço a uma visada mais pessimista e mais materializada do corpo. Ora marcada pelo desejo da dissolução mundana e da ascese, ora enfrentando a vida brutal que se apresenta na sociedade moderna, a voz poética procura uma linha de escape. O presente trabalho quer pensar as manifestações da morte e do grotesco nos poemas de Só enquanto uma consciência aguda do caráter efêmero da existência.

  1. Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP) – A Construção do Sonho na Obra de Dois Poetas Simbolistas: o Brasileiro Emiliano Perneta e o Quebequense Émile Nelligan.

Resumo: A partir de um levantamento de vocabulário relacionado ao tema do sonho na poesia dos escritores Émile Nelligan (quebequense) e Emiliano Perneta (brasileiro), tentamos mostrar como os dois poetas manipulam os elementos ligados a este tema no universo poético de cada um deles, assinalando as semelhanças e as dessemelhanças percebidas na comparação. Baseamo-nos, em nossa análise, na garantia de objetividade fornecida pelo vocabulário, em que os elementos arrolados são identificados de acordo com métodos científicos nos quais o quantitativo se associa ao qualitativo. Emiliano Perneta (1866-1921) foi uma das mais importantes expressões do Simbolismo brasileiro, tanto para a introdução e a instalação do movimento em nossas terras, quanto pela importância de sua obra poética. Cabe lembrar que o período de produção artística de Emiliano coincide com uma época, em nosso país, de forte influência francesa nos costumes, nas ciências e nas artes, particularmente na literatura. Da mesma forma, Émile Nelligan (1879-1941), um dos maiores poetas líricos do Québec, apresentando várias semelhanças com o poeta brasileiro, cristaliza de algum modo a possibilidade da própria existência de uma literatura quebequense bastante original e autônoma. Como os românticos, é Edgar Allan Poe que mostra o “sonho” a Baudelaire: para o poeta francês a verdadeira realidade só estava no “sonho”, absurdo, imprevisto, “hieroglífico”, segundo ele. Este “sonho” favorece a evasão para um mundo ideal em que tudo é fácil e favorável: o poeta é o arquiteto de seu próprio universo maravilhoso. E é este “sonho” que Nelligan e Emiliano, mesclando a doutrina simbolista à expressão de cada um, tentaram esboçar em suas obras, como veremos ao longo deste trabalho.

  1. Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/Araraquara) – Mocidade morta, de Gonzaga Duque: um romance simbolista

Resumo: Em 1899, o escritor brasileiro Gonzaga Duque publica, no Rio de Janeiro, o romance simbolista Mocidade morta com duplo objetivo: desenvolver reflexões acerca da produção brasileira de artes plásticas do final do século XIX bem como oferecer, através das personagens retratadas, uma imagem da boêmia carioca da época, associando suas atividades àquelas realizadas, em Paris, pelos artistas franceses. A obra relata, portanto, os anseios estéticos e o destino de alguns artistas, sua pretensão de subverter a arte oficial ainda privilegiada pela Academia e, finalmente, o fatal insucesso do empreendimento. Para a composição do texto, Gonzaga Duque, também crítico de arte, lança mão de suas ideias sobre o estado das artes no Brasil, visando avaliar as obras realizadas em seu tempo e evidenciar seu entusiasmo pelas telas dos pintores impressionistas da França. Sob a perspectiva propriamente literária, ainda, Mocidade morta remete aos “romances de artistas” redigidos por escritores franceses durante o século XIX. O objetivo da comunicação a ser apresentada é o de rever, sob a ótica da estética simbolista, este – em nossos dias –  relativamente pouco lembrado romance de Gonzaga Duque.

  1. Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE) – Notas sobre Guilherme de Almeida e a poesia simbolista

Resumo: É conhecido o esforço de alguns críticos brasileiros do início do século XX de constituir uma relação entre a poesia moderna e a sua herança simbolista. Alceu Amoroso Lima afirmou ter o simbolismo aberto “rumos novos” e tido “o grande mérito de trazer de novo a poesia ao seu berço nativo – o mistério”. Andrade Muricy e Tasso da Silveira também procederam a uma revisão do simbolismo com vistas à poesia moderna, europeia e brasileira. Fizeram-no através de edições da obra de Cruz de Souza, Bernardino Lopes, Emiliano Perneta, ou do exaustivo Panorama do simbolismo brasileiro (Muricy 1952) publicado em dois volumes e abrangendo desde precursores do movimento até poetas como Manuel Bandeira, Cecília Meireles ou Onestaldo de Pennafort. O interesse desta apresentação é percorrer duas chaves principais de leitura dessa tradição, a espiritualidade e a música, às quais Alceu somaria outra, política, em seu artigo intitulado “A reação espiritualista”. Trata-se, por um lado, de investigar o diálogo do grupo que se constituiu em torno da revista Festa com o movimento simbolista e com as leituras, no âmbito brasileiro, das obras críticas de Mallarmé e de Henri Brémond. Por outro, de proceder à interpretação do livro Festim de Guilherme de Almeida – que foi um dos principais tradutores de Baudelaire, Mallarmé e Paul Verlaine, mas também de poetas influenciados pelo movimento simbolista, como Paul Géraldy – livro considerado pelo poeta, nos anos 1930, como o seu melhor. Segundo o poeta, Festim foi a única obra em que pôde “manter uma atitude puramente espiritualista e em que consegui lançar uma forma poética exclusivamente minha”.

  1. Profa. Dra. Raquel Madanelo (UFMG) – Pascoaes, Pessoa e o simbolismo

Resumo: O objetivo desta comunicação será refletir sobre saudosismo, simbolismo e modernismo em alguns textos críticos e literários de Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa.

  1. Rodrigo Bravo (mestrando – USP) – Verso e Ritmo em Esphinges, de Francisca Júlia

Resumo: Pouco estudada pela crítica literária contemporânea, a poetisa Francisca Júlia (1871-1920) teve grande importância para a poesia simbolista em língua portuguesa, tendo sido uma das primeiras a incorporar os preceitos na arte poética brasileira. Dotada de habilidade ímpar de versificação, compôs com os mais variados metros de nossa língua, destacando-se sua concepção única de verso alexandrino aplicada ao soneto, concebida a partir de Baudelaire e outros poetas simbolistas de língua francesa. O presente trabalho, portanto, com o objetivo de adicionar ao debate esticológico, tem por objetivo analisar brevemente o processo de versificação da autora, a partir do estudo e da escanção de sonetos e outros poemas polimétricos constantes do livro “Esphinges” (segunda edição de 1915). Por meio disso, busca-se compreender de maneira mais profunda não apenas seus critérios composicionais de um modo geral, bem como os elos entre expressão e conteúdo criados pela poetisa em alguns de seus poemas mais importantes.

  1. Prof. Dr. Rogério Caetano de Almeida (UTFPR) – Marcas decadentistas, simbolistas e expressionistas em Augusto dos Anjos: o poeta do hediondo e algumas confluências da modernidade

Resumo: Este trabalho parte do epíteto “poeta do hediondo”, sempre vinculado ao poeta paraibano Augusto dos Anjos, como um termo que, de alguma maneira, configura a poética do autor como pertencente à modernidade. Neste sentido, o “hediondo” é aproximado das reflexões teóricas do grotesco, fenômeno este que se relaciona intimamente com tendências estéticas finisseculares, tais quais o Decadente-Simbolismo, o cientificismo que permeia toda a poética do autor, a relação que sua obra constrói com o art noveau, conforme Anatol Rosenfeld, e deságua numa poética muito próxima do que se convenciona chamar de Expressionismo. Todo esse apanágio de teorias conflui para uma poética da modernidade. Na reflexão que se faz sobre o grotesco, parte-se de Victor Hugo, Wolfgang Kayser e Mikhail Bakhtin. No que tange ao Decadentismo e ao Simbolismo, adota-se as perspectivas de Edmund Wilson, Richard Ellman, Anna Balakian e os trabalhos traduzidos e organizados por Fúlvia Moretto. Sobre o Expressionismo, J. Guinzburg e Giulio Carlo Argan são os suportes teóricos adotados. Quanto à modernidade, pauta-se em W. Benjamin e Marshall Berman.

  1. Rosângela Canassa (doutoranda – Mackenzie) – Salomé de Oscar Wilde: a mulher e o mal no fim do século XIX

Resumo: A literatura e a poesia simbolista buscavam um refúgio com os temas do ar, da água e da lua. A leitmotiv da lua é uso corrente entre os simbolistas, enquanto o desgosto encobrira uma nostalgia do mundo que se desintegra gerando a melancolia e a ansiedade expressa na obra de Oscar Wilde (1854-1900). A Salomé, a femme fatale de Oscar Wilde e sua figura andrógina proporciona a discussão em torno das personagens na medida em que mostram uma ambiguidade sexual. O escritor exalta o mito de Salomé e veicula o foco na decapitação de João Batista e transfere a responsabilidade pelo crime de Salomé, que se vinga por sentir-se rejeitada pelo sírio. A peça teatral Salomé (1891) é a inspiração para o filme de mesmo nome, cuja protagonista é interpretada pela atriz russa Alla Nazimova. O filme é mudo foi dirigido pelo cineasta Charles Bryand, em 1923. A dançarina bíblica e o seu tormento, quase um êxtase religioso e em busca da cabeça decepada e numa bandeja de prata. Depois ela o beija triunfalmente. Wilde teve a influência dos simbolistas com o erotismo encarnada nas odaliscas, deusas e prostitutas num deslocamento temporal-espacial, que incorporava o corpo feminino idealizado no corpo obsessivo e erótico, mas jamais neutro. A corporeidade, no sentido de corpos construídos, conforme a imaginação dos artistas da época estava relacionada também aos elementos do desejo, da luxúria, da fantasia e da homossexualidade, que combinavam com o tema da morte do corpo. A personagem de Salomé representada como demoníaca era um dos temas fulcrais do Simbolismo e permaneceu no imaginário coletivo, nas artes e na literatura.

  1. Sandra Mina Takakura (doutoranda – USP) – Uma proposta de estudo Neobarroco: ecos mallarmeanos em Et Eu Tu, de Arnaldo Antunes e Márcia Xavier

Resumo: O neobarroco, enquanto estética da transgressão, representa o rompimento de padrões estéticos e modelos cristalizados das formas poéticas, figuras e construções de imagens, que se observa nas poéticas nacionais desde Gregório de Matos Guerra, Sousândrade, Oswald de Andrade e, na contemporaneidade, nas experimentações de poetas concretos como Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O movimento concreto traduz-se por processos canibalísticos de apropriações de linguagens poéticas de variados movimentos no cenário internacional e nacional, dentre os quais destaca-se a experimentação em sintaxe visual e ritmo estruturante, visual e sonoro na obra Un Coup de Dés (1897), de autoria de Stéphane Mallarmé (CAMPOS, H., 1992; CAMPOS, A., 2011). A citada obra encontra ecos na contemporaneidade, observados na obra de Arnaldo Antunes, que desenvolve o seu próprio estilo aliando à estética neobarroca literária, o neobarroco que congrega mídia e arte, desenvolvidos nos estudos de Arlindo Machado (2008), a partir de Severo Saurdy (1974). O poeta realiza inúmeras experimentações e projetos colaborativos com diferentes artistas, na obra Et Eu Tu (2003), vale-se do verbo para estabelecer um diálogo com as fotografias de Márcia Xavier. Em contraste à obra mallarmeana, acerca da viagem ao mar e encontro com figuras em abismos profundos, constituída por palavras que sugestionam imagens e estados de alma, Arnaldo Antunes vale-se de imagens contemporâneas de viagens aéreas, contrapondo-se ao mar do poeta francês e aterrissa em um corpo feminino, em um cotidiano sugestionado por palavras concretas. Esta comunicação visa demonstrar ecos da obra mallarmeana, na obra de Arnaldo Antunes e Márcia Xavier Et Eu Tu, escrutinando as metáforas da viagem, das imagens e das sugestões cotidianas.

  1. Profa. Dra. Sandra Trabucco Valenzuela (Anhembi Morumbi) – Pandora e Eva: imagens femininas na arte simbolista de Redon, Klimt e Mossa

Resumo: Em As Flores de Mal (1857), Charles Baudelaire propõe o princípio das correspondências, através do qual defende que a realidade visível não é senão um disfarce de outra mais complexa, interior, e que estabelece relações entre o sujeito e o objeto baseadas em sensações; trata-se de um “desregramento de todos os sentidos” (Rimbaud), que variam de acordo com o estado da alma.  A estética simbolista nas artes plásticas consiste na exteriorização de ideias subjetivas a partir da sugestão, de correspondências entre o tangível e a expressão simbólica através de imagens transcendentes, plasmando diegeses ambíguas, atemporais, povoadas pela beleza da mulher fatal e incorpórea, advinda do inconsciente e resgatada de mitos e fantasias. Através de cores fortes, como as definidas por Rimbaud em seu soneto “Voyelles”, Odilon Redon, Gustav Klimt e Gustav-Adolf Mossa desenvolvem obras desafiadoras, em dissonância com a experiência, voltando-se para a valorização do espiritual e da em detrimento do positivismo, do empirismo e da degradação. Com ecos da arte pré-rafaelita fundada em 1848, em Londres, Dante Gabriel Rossetti, John Everett Millais e William Holman Hunt resgataram temas da literatura clássica e medieval, assim como temas mitológicos. Ora como deusa, ora como cortesã, musa, serpente profana ou ser sagrado, a mulher torna-se um tema recorrente na arte simbolista, interpretada com um caráter dúbio, misterioso, sombrio ou mesmo mágico. O presente trabalho aborda a imagem do feminino  no contexto da produção artística de pintores simbolistas como Redon, Klimt e Mossa, observando a leitura das personagens Pandora e Eva.

  1. Profa. Dra. Simone Rufinoni (USP) – O Simbolismo em face da escravidão: a poética de Cruz e Sousa

Resumo: Entre os aspectos da poética de Cruz e Sousa, o trabalho pretende abordar as estratégias por meio das quais tanto o legado baudelairiano quanto a estética simbolista são mobilizados e transfigurados diante dos imperativos sociais do contexto local: assim, o discurso indireto da imagem, a concepção do artista eleito, o gênero poema em prosa ou as formas do mal tornam-se procedimentos que se voltam à apreensão da matéria local, marcada pela escravidão e pela alteridade negativa do homem negro de letras.

  1. Yuri Amaury Pires Molinari (mestrando – UFPR) – Tradução musical: Debussy e os Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé

Resumo: O ambiente interestético e intersemiótico da Paris finissecular talvez não encontre melhor expressão que na relação entre Mallarmé e Debussy: este, leitor voraz de poetas francófonos; aquele, grande admirador da música; ambos, vinculados, de uma forma ou de outra, ao fenômeno estético chamado Impressionismo, que se originou na pintura e acabou por perpassar outras formas de arte (HAUSER, 1972 [1951]). A atenção despendida pelo poeta em imbuir seus versos de uma musicalidade própria torna-se muito mais interessante ao considerarmos que seus poemas foram musicados por Debussy em pelo menos duas ocasiões: no Prélude à l’après-midi d’un faune (1894), para orquestra – obra esta que foi saudada pelo próprio Mallarmé -; e nos Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé (1913), para piano e voz. Levando isto em conta, propomos uma análise dos Trois Poèmes… enquanto tradução intersemiótica indicial (PLAZA, 2013) dos poemas de Mallarmé. Por esse viés, e amparando-nos no instrumental teórico fornecido por Umberto Eco (2014 [1976]), visamos a legitimar o gesto efetuado por Debussy como um procedimento tradutório que abarca elementos formais e conteudísticos dos poemas, refletindo-os e/ou refratando-os em elementos musicais. As relações íntimas entre poesia e música, bem como aspectos estético-semióticos do fin-de-siècle francês, serão devidamente observadas nesta obra em que original e tradução se entrelaçam, complementam e comentam mutuamente, principalmente no que tange a questões inerentes à performance poética e musical (ZUMTHOR, 2014 [2006]; SMITH, 1971).

Blog no WordPress.com.

Acima ↑